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  • Helia W.Rodriguez

ELE DISSE, VENHA!


Havia uma multidão imensa, e ele começou a caminhar entre ela e com uma voz trêmula e agonizante de quem carregava um peso insuportável, ele seguia clamando , a cada passo, a cada gota de ar que entrava em seus pulmões, ele balbuciava…..


E em tom de desespero fazia o seu convite delicado , mas viceralmente:


- Perdidos, venham!

- Cegos, venham!

- Culpados, venham!

- Rebeldes, venham!

- Cansados, venham!

- Doentes, venham!

- Rejeitados , venham!

- Abandonados, venham!

- Pobres, venham!

- Machucados, venham!

- Arrogantes, venham!

- Assassinos, venham!

- Prostitutas, venham!

- Ladrões , venham!

- Mentirosos, venham!

- Solitários, venham!

- Adúlteros , venham!

- Religiosos, venham!

- Pecadores, venham!


A sua voz ecoava e se dissipava entre o ruído das chibatadas e as ordens abusivas dos soldados.


E ele seguia. Como um cordeiro marchava em direção ao seu próprio matadouro e como uma ovelha, caminhava em direção ao local do seu sacrifício.


Sua mente e raciocínio estavam turvos pelo excesso de estresse e dor mas ainda assim ele seguia dizendo venha, venha comigo.


Foi então que ele chamou o meu nome. A multidão zombava, gargalhava e cuspia em sua face mas ele apenas balbuciava o meu nome.


Entre a vergonha, o temor e a alegria eu segui aquela procissão…e ao chegar ao monte Caveira onde ele foi pregado numa cruz e sua cruz foi erguida entre as cruzes de dois ladrões, eu ouvi então o ruído da terra tremendo e o sol, não podendo suportar assistir

a crueldade que se fazia ao seu criador, se escondeu , por três horas.


Era como se a própria existência estivesse em pausa assistindo o seu criador ser esmagado numa cruz.


Naquele silêncio e terror que se seguiu, a multidão agora silenciada pelo medo, as autoridades se escondiam desesperadas e naquele ruído estarrecedor das trevas que se moviam sobre aquele lugar, outra vez, ele chamou o meu nome.


Eu ouvi ele me chamar , mas eu não conseguia responder. Eu estava com o rosto em terra e eu dava reviravoltas no chão porque eu sentia a vergonha e a dor dos meus tantos pecados. Os meus atos, pensamentos e sentimentos. As minhas trangressões estavam ali `a minha frente e violentamente matavam o cordeiro de Deus, puro e sem mácula .


E no tom de quem desfalece em seu último suspiro, ele chamou meu nome mais uma vez, e pregado naquele cruz, que não era dele, mas que era minha, Ele morreu.


Entre os meus gritos de vergonha , luto e arrependimento eu vi em sua voz o quanto Ele me amava.

Ninguém nunca me amou assim. Ninguém nunca me chamou assim.

Ao terceiro dia, o cordeiro ressuscitou dentre os mortos e hoje ele está assentado no trono , ao lado do Pai, e dia e noite ele segue chamando à você e mim: VENHA!


Obrigada por sua leitura. Se desejar deixa o seu comentário.




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